Uma vez

Apenas um lado da perna, das costas, dos braços e do rosto encostam no lençol da cama. A posição encolhida demais, circular demais. O um metro e setenta tornaram-se poucos centímetros.

As lágrimas que descem sem sentido, na tola esperança de lavar a alma. Mas não é água salgada do mar, é água salgada de um corpo já em dor. De uma alma que já não se conecta mais nem mesmo com as coisas que um dia já fizeram tanto sentido.

Uma vez, no passado, me vi no reflexo de um espelho. Naquela época eu me sentia tão belo, desejado.

Uma vez, no passado, eu me peguei em uma discussão sem ter medo de parecer um fraco. O coração acelerava, mas eu enfrentava os problemas mesmo assim.

Uma vez, no passado, eu argumentei questões da vida e da profissão sem ter medo de parecer burro.

Uma vez, no passado, eu corri sem rumo por uma orla qualquer, sem me preocupar se as outras pessoas estariam me julgando.

Uma vez, no passado, eu fui feliz. Mas talvez tenha sido só uma vez.

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